segunda-feira, 20 de outubro de 2008

LARISSA Nº13
O tratamento do negro como vítima nos livros de História do Brasil reforça o preconceito racial, afirma o historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“O padrão ainda é de redução, nos livros didáticos, do negro à vítima da história brasileira, vítima da sanha colonizadora, vítima da sanha do branco”, afirmou Florentino, em entrevista à BBC Brasil.
“Isso dificulta o processo de identificação social das nossas crianças com aquela figura que está sendo maltratada o tempo todo, sempre faminta, maltrapilha.”
Segundo Florentino, não se trata de negar os abusos aos quais o negro foi submetido durante a escravatura, mas de mostrar como, apesar desse contexto, também participou, de maneira positiva, da formação do Brasil.
O historiador, autor de livros como Em Costas Negras, sobre o tráfico de escravos, destaca, por exemplo, que, dentre todas a sociedades escravagistas americanas, a brasileira foi a que conheceu os maiores índices de alforrias. “Isso não é devidamente tratado pela grande parte dos nossos livros”, disse.
Por outro lado, figuras que, por serem mestiças, conseguiram se libertar do legado da escravidão e se destacar na vida pública passaram para a história como brancos.
“Rui Barbosa, por exemplo, só é branco no Brasil”, disse Florentino.
“Você pega presidentes como Floriano Peixoto. Ele é o típico caboclo brasileiro, índio misturado com negro. Você pega Rodrigues Alves e Washington Luís. São pessoas que, de acordo com um sistema de classificação anglo-saxão, não são exatamente brancos.”
Esse fenômeno faz parte da chamada “ideologia do branqueamento”, pela qual indivíduos de ascendência negra tentavam se passar por brancos para ascenderem socialmente.
Florentino sustenta, porém, que a ideologia do branqueamento e o preconceito racial vêm perdendo força na sociedade brasileira, principalmente nas camadas menos favorecidas.
Uma prova disso, diz ele, é a composição dos chamados casais mistos. Se até 30 ou 40 anos atrás, a maioria deles era formada por homens brancos ou mais claros e mulheres negras ou mais escuras, hoje, a composição típica se inverteu, com mais mulheres claras e homens escuros.
“Tradicionalmente, desde a época colonial, o veículo de branqueamento tem sido as mulheres. Eram elas que buscavam branquear as suas gerações, quando podiam, através do casamento com homens brancos. Hoje, é a mulher branca que busca homens negros.”





























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