
O livro, delicioso de ler, é daqueles que devoramos em poucos dias - como um brigadeiro literário ou uma bomba-de-chocolate toda feita de papel e tinta. I Know Why The Caged Bird Sings é um romance americano de primeira grandeza, quase steinbeckiano, que narra como uma garotinha negra tenta sobreviver, aos trancos e barrancos, num ambiente saturado de preconceito racial, dificuldades econômicas e dúvidas e espantos infantis que só aos poucos se dissipam.
Eram os anos entre a Depressão e a Segunda Guerra Mundial, quando a Klu Klux Klan "causava" com suas perseguições, os dentistas brancos diziam preferir pôr a mão na boca de um cachorro do que na boca de uma criança de cor e o próprio Deus, lá no Céu, era branquinho como uma nuvem... Ela, Maya, tem que "admitir tristemente que crescer não era o processo indolor que pensava ser" (pg. 233) e que era de fato um caminho de pedras e espinhos para uma menina negra chegar a emergir e desabrochar com um ser humano magnífico quando o mundo inteiro, ao seu redor, tentava esmagá-la e submetê-la. Maya Angelou sabe porque o pássaro canta na gaiola pois ela foi esse pássaro, e toda sua raça foi esse pássaro. E ela foi daqueles que voou."Se crescer é doloroso para a menina negra do Sul, ter consciência de seu desloamento é a ferrugem na navalha que ameaça o pescoço. É um insulto desnecessário" (13). É assim que Maya Angalou termina o primeiro capítulo dessa sua primeira novela auto-biográfica: enfatizando o quão doloroso é o processo de crescer no Sul ainda segregacionista, onde todos ainda parecem pisar sobre um solo ensopado pelo sangue da Guerra Civil, com plena consciência da desigualdade social e do preconceito racial reinantes. A jornada existencial por que passa a pequena Maya em I Know Why The Caged Bird Sings é toda permeada por este "fogo cruzado triplo do preconceito masculino, do ódio ilógico branco e da falta de poder do negro" (248).
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